Sobre a “transformação digital” e coisas afins

Por André D´Angelo

Sua empresa está pronta para a “transformação digital”? Se você souber o que isso significa, talvez tenha condições de responder. Mas como tantas expressões em voga por aí, ela pode representar muitas coisas diferentes – ou, o que é mais provável, queira dizer muito pouco ou quase nada.

Isso é o que mostra uma pesquisa divulgada recentemente na imprensa e que conclui que “não há qualquer convergência sobre do que se trata a Transformação Digital”. Isso “leva a um cenário de desperdício de tempo e, especialmente, investimentos. Tudo movido pelo temor de ficar defasado. Um a cada cinco CEOs diz que o principal motivo para investir em tecnologias digitais é o ‘medo de ficar para trás dos concorrentes’” (matéria completa aqui).

Surpresa? Nenhuma. Se trocássemos “transformação digital” por “indústria 4.0”, “sincromarketing”, “user experience” ou qualquer outro termo da moda, os resultados tenderiam a ser muito parecidos: uma miríade de opiniões e percepções previsivelmente pouco convergentes sobre expressões excessivamente vagas.

Daí que as empresas façam esforços em alguma direção – qualquer uma – para não se sentir ultrapassadas. Algo que às vezes custa caro. Depois de muito procurar por um fornecedor, uma grande varejista brasileira, por exemplo, comprou uma tecnologia de “digital analytics” para suas redes sociais e seu comércio on-line – para logo após descobrir que ferramentas gratuitas do Google eram mais que suficientes para o que necessitava.

Não há nenhuma novidade nesse fenômeno. Duas décadas atrás, a palavra de ordem era “marketing de relacionamento” e suas variações, como “marketing um a um”, e sua ferramenta-mor, “CRM” (Customer Relationship Management). As conclusões de pesquisa realizada à época sobre o assunto? Bastante sugestivas, como se pode ler abaixo:

“(…) investimentos em tecnologia e ferramentas de banco de dados justificavam-se pela facilidade que representavam para as empresas em se manter equiparadas aos seus concorrentes. (…) A reafirmação periódica da necessidade de ação (…) contribui para gerar inseguranças generalizadas que, na intenção de serem minoradas, inevitavelmente desembocam numa decisão: investir” (artigo completo aqui).

Por isso, sempre fico com um pé atrás quando rotulam certos gestores ou empresários como “ultrapassados” ou “conservadores”. Embora existam, obviamente, profissionais refratários a qualquer mudança ou evolução, é imperioso reconhecer que, dada a quantidade de “novidades” alçadas à condição de panaceia nos negócios, uma certa dose de ceticismo vem bem – ou como bem diria aquele personagem baseado em um conhecido treinador de futebol gaúcho, a “cau-te-la” tem, sim, o seu valor.